segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Super Mario Galaxy // Análise

O espaço é o limite

A cada 100 anos, um cometa sobrevoa o Reino dos Cogumelos, lançando ao ar restos de estrela, ou Star Bits, os quais são coletados pelos Toads em um festival. Naturalmente, Bowser chega para acabar com a festa, levando consigo não apenas a princesa, mas todo seu castelo para o espaço. Na tentativa de salvá-la, Mario e alguns Toads são levados juntos. Mario acaba alcançando um grande observatório espacial, onde vivem as pequenas e graciosas estrelinhas Lumas e sua guardiã Rosalina, cujo passado é cercado de mistério. Com seu progresso, a história dos novos personagens vai sendo desvendada. Como o clássico "Super Mario World 2: Yoshi´s Island", "Super Mario Galaxy" traz uma história na forma de conto infantil que, por mais sutil e simples que seja, consegue emocionar o jogador.

O observatório serve como mapa de seleção de fases. Como nos jogos anteriores da série, o objetivo é coletar estrelas para que novas fases sejam abertas. Após enfrentar o chefe de uma área, o observatório se expande, dando acesso a novos desafios. No total, são 121 estelas para serem coletadas, espalhadas por entre as fases, sendo que 60 delas são obrigatórias para que se enfrente o chefe final.


Um encontro entre o clássico e o novo


A fórmula funciona exatamente como em "Super Mario 64": você passará pelas mesmas fases mais do que uma vez, porém sempre enfrentando novos desafios e descobrindo novas localidades. Tudo é tão bem equilibrado que você sempre saberá para onde ir e o que fazer, sem que seja obrigado a seguir as fases em uma ordem pré-definida. O avanço no jogo é fluido e acontece naturalmente, sem que o jogador se sinta perdido ou frustrado.
Os controles são funcionais, têm resposta imediata e não causam exaustão, ao contrário de outros jogos do Wii. Para mover Mario pela tela, usa-se o direcional analógico da extensão Nunchuk. Já o comando de pulo é feito com o pressionar do botão A do Wii Remote, que também serve para direcionar o cursor pela tela, o qual possui diversas funções (explicadas mais abaixo). Outras ações, como o ataque giratório de Mario ou o lançamento de objetos são feitas com uma simples chacoalhada de leve no Wii Remote. A habilidade nata de Mario continua sendo o pulo e suas variações, porém cada fase permite que o personagem realize algo novo. A variação na mecânica é tão alta que, com exceção do pulo, raramente você executará as mesmas ações durante todo o jogo. Tudo é tão diversificado e prazeroso que poucos são os momentos em que você não estará com um sorriso estampado no rosto, tamanha são as surpresas que as fases reservam. A maioria delas consiste em diversos planetóides espalhados pelo espaço, de diferentes tamanhos, formas e aparências. Você pode correr livremente sobre eles, inclusive de ponta-cabeça, pois a gravidade própria lhe impedirá de cair, a menos que exista um burado negro por perto, que poderá sugá-lo caso se afaste muito da superfície do planeta. Por menores que sejam, há sempre muito que explorar em cada um deles, inclusive áreas secretas. Há também fases com grandes áreas abertas, que fogem do formato esférico dos planetóides e lembram jogos de plataforma mais tradicionais. Fases típicas da série, como mundos de gelo, fogo ou com temática egipcia e de terror também estão presentes, para a alegria dos saudosistas.


A câmera, um dos elementos mais difíceis de ser trabalhado em jogos do gênero, é extremamente precisa e funciona perfeitamente, sem a interferência do jogador - talvez por se posicionar um pouco mais distante do personagem do que de costume. Mesmo nos momentos em que você está de cabeça para baixo, ela não se confunde, mostrando exatamente o percurso a ser seguido. Mario possui apenas três pontos de energia, que podem ser restaurados coletando moedas. Além destas, existem também as Star Bits, pedaços coloridos de estrela, os quais são coletados através do cursor projetado pelo Wii Remote. Elas servem para derrubar oponentes, tornando-os vulneráveis, alimentar as estrelinhas Lumas (quando necessário) para abrir novos caminhos, etc. Há muitas maneiras de alcançar outros planetóides até que se chegue à estrela e, conseqüentemente, ao final da fase. Existem canhões que lançam Mario à longas distâncias, ímãs, estilingues, trepadeiras e mais. Todos fazem uso do Wii Remote de maneira diferente e inteligente, sem exigir movimentos exagerados ou exaustivos.


Talvez um dos únicos pontos negativos aqui seja seu modo para dois jogadores, que nada mais é do que a aventura solo, só que com a participação de um segundo jogador no comando de um Wii Remote. Sua única função será ajudar a colecionar Star Bits com cursor e lançá-los nos inimigos para que o jogador no controle de Mario possa derrotá-los. Porém, além da tarefa ser facilmente realizada por um único jogador, o segundo acaba mais atrapalhando e gerando confusão. No mais, vale uma tentativa. O que definitivamente faz de "Super Mario Galaxy" uma obra de gênio (que por sinal, não é para menos, já que estamos falando do criador do personagem, o lendário Shigeru Miyamoto) é seu trabalho de design, criação e planejamento. Situações absurdas, que desafiam nossos sentidos e compreensão, como jamais um jogo de plataforma conseguiu, são constantes. A Nintendo não poupou esforços para incluir diferentes mecânicas de jogo em "Super Mario Galaxy". Ele vai além do gênero plataforma, trazendo desafios de corrida, de equilíbrio (como em "Super Monkey Ball") e fases sensacionais de rolagem lateral. Todas, sem excessão, possuem controles ideais e são incrivelmente divertidas. As brincadeiras com a gravidade, a física e a nossa percepção, vistas talvez apenas no fantástico "Portal" (mas de uma forma menos desprendida), mostram que o gênero de plataforma em 3D ainda tem muito para ser explorado.

Tudo é tão diferente do que estamos acostumados a jogar que, sem dúvida, "Super Mario Galaxy" será referência durante os próximos anos na indústria dos jogos.


Galáxia surreal


Se a série "Mario Bros." foi em parte inspirada na obra Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, "Super Mario Galaxy" tem um quê de Pequeno Príncipe. Seus pequenos planetas esféricos, com casinhas e jardins, e a possibilidade de circundá-los, lembra a obra do francês Antoine de Saint-Exupéry. Aliás a história do jogo, em forma de conto infantil, com direito a belíssimas ilustrações aquareladas, não é apenas mais uma referência, e sim uma grande homenagem a este clássico da literatura.

A temática espacial dá um novo ar à série, sem deixar de lado os elementos que sempre a caracterizaram, como os inimigos (há alguns novos), os obstáculos, as caixas de interrogação etc. Tudo compõe um universo criativo e cativante que, por mais colorido e infantil que pareça ser, pode ser apreciado por todos.
Orquestra de Mario
A trilha sonora triunfante, parte orquestrada e parte eletrônica, denuncia a nova jornada espacial. Aliás, o que poderia soar estranho, visto que a série nunca teve músicas tão pomposas, cai como uma luva. Elas acompanham com precisão o clima de cada fase, passando sensações de acordo com as situações do jogo e, inclusive, alterando a estrutura musical em tempo real. Os momentos mais calmos, com menos ação, por exemplo, trazem músicas leves e agradáveis. Já as batalhas contra o vilão Bowser se tornam ainda mais intensas e dramáticas com as músicas acompanhadas de um coral retumbante. Contudo, ainda há musicas sintetizadas pelo próprio hardware do Wii, o que gera um certo contraste, visto que a qualidade sonora das músicas orquestradas são evidentemente superiores.

Não menos impressionante é o visual de "Super Mario Galaxy", que mostra o verdadeiro potencial gráfico do console. Todos os personagens e cenários foram cuidadosamente modelados e apresentam um efeito de iluminação que os tornam mais volumosos. Em geral, as texturas são muito bem definidas e apresentam belíssimos efeitos de reflexo em superfícies metálicas, como nos jogos mais realistas para Xbox 360 ou PlayStation 3, consoles tecnologicamente superiores ao Wii. Nenhum objeto some do campo de visão do jogador. Mesmo os planetas mais afastados permanecem onde estão, sem nenhum detalhe a menos. Ainda é possível encontrar texturas borradas aqui e acolá (principalmente se você entrar no modo em primeira pessoa, usado para analisar o cenário), contudo, são excessões. Mesmo com seu visual avantajado, a taxa de quadros do jogo não cai em nenhum instante, até nos momentos em que a tela se enche de objetos e inimigos.

Além de ser o jogo mais impressionante do Wii até o momento, tecnologiamente falando, é também o mais bonito em termos de direção artística. Cada fase possui suas próprias características visuais, de acordo a temática. O jogo apresenta uma galáxia surreal (para não dizer onírica), cheia de vida e cores, jamais imaginada em jogo, filme ou livro.

Bom presente de natal, é dez vezes melhor que halo 3, mas vendeu apenas a metade que o mesmo no primeiro dia.

Nenhum comentário: